Procura-se alguém
que sabe aprisionar céus
em molduras de janelas
e cavalcar a noite
preso às crinas do vento
Alguém que sabe
quantas voltas tem
o colar dos rios que enfeitam a terra
e quantos véus de espuma,
em cada segundo,
vai tecendo o mar.
Procura-se alguém
sobremaneira rico,
que colhe dos campos os dourados trigos
e nos arvoredos põe laços de luar.
Alguém com tal engenho e arte,
que sabe enredar docemente
a quietude verde das ramas.
Procura-se alguém especialmente vadio,
que segue o rumo do chapéu florido,
entre risos e sustos, no rio, perdido
sem que os remos o possam alcançar.
Alguém amigo da assombração, que monta num pangaré,
vira menino
e campeia pelo mato
sem medo, sem destino.
Procura-se alguém
que sabe recompor antigos bailados
de vestidos brancos de "voil"
tangidos pelo vento, bordados pelo sol.
Alguém assim tão delicado,
que colhe o aroma entristecido
das rosas que florescem
nos jardins abandonados.
Alguém fatalmente tão triste,
que prende a tarde numa gaiola,
só para ouvir a saudade cantar.
Procura-se alguém
que, mais do que ninguém,
conheça a alegria
e conheça a dor,
mas como as trepadeiras,
sem alarde,
simplesmente,
caminha deixando
pegadas de flor.
Procura-se um poeta!