Onde estarei, em 2053...?
No fundo de um poço,
a sete palmos de terra?
O que sentirei?
Ócio, tédio?
A quem encantarei, com minha triste figura,
Como andarei pelas ruas,
faceiras, tristonhas, antigas
Da cidade que tanto amei?
Como será esse tempo,
De cores, sonhos,
De ninguém, talvez?
Passarei voando no alto,
Como nos filmes do futuro?
Ou estarei tão velho e cansado,
Chorando por coisas que nem tentei?
A ciência ou a revelação do divino,
Me farão jovem outra vez?
Como no entardecer de menino,
com cheiro de terra e de mato,
infiltrando-me os sonhos,
molhando-me de chuva,
com rosto lavado,
comendo uma fruta,
no galho da árvore,
que nem mesmo plantei?...
Ou serei um fenômeno,
Com contos e cantos,
Poemas e prantos,
Em depoimentos,
Para os homens de senso,
Que, em um dado momento,
Me vissem no meio,
Da massa sedenta de tantos encantos?
E o que nascerá em 2053?
Um novo mundo habitado,
mais um deserto isolado,
Um ponto velado,
Na essência dos mitos,
No silêncio dos gritos,
Que não ouvirei?
Haverá uma aldeia?
Uma praia de areia,
Uma planta rasteira,
Um sorriso novinho,
De gente miúda,
Que o tempo transmuda,
Assim como o eu,
Pequeno sorriso,
Que fica sozinho,
A meio caminho,
Dos olhos do céu...?
E se não houver mais, 2053?