Leito
Queria o teu amor suave
Mas o amor suave não veio.
Correu somente nas veias
Um rio de ouro e veneno.
Peneira o rio, garimpeiro
Um fio de luz escondido.
Aquele dourado de aurora
Entregue ao breve destino.
Perdi meus sorrisos n'água
Todos afogados pelo brilho
Dos teus próprios sorrisos
— ofertas do rosto narciso —.
Procurei neste rio de memória
Teu rosto velho e esquecido.
Riu ao passar pela porta
Ao ver que ainda deito contigo.
Navego nestas vagas lembranças.
Deito meu seio pequenino
Nas margens do encontro perdido
De mãos passando por mim.
E volto serena e bela
Ao rio fugitivo de ti.
Abraçados pelo perfume da terra
Meu leito alcança o fim.
Do livro: "Louvores e Cantigas",
Blocos, RJ, 1999
«
Voltar