Canção para esquecer
Acostumei-me a ser ignorada
Quando mais precisava ser vista.
Acostumei-me para não sofrer
Para poupar o peito das facadas.
Levei no ventre, muitas delas.
Entravam lentas. Pequeninas.
A praia estava contaminada
No mar só as pontas dos pés molhava
E suava no resto do corpo
Acostumada.
Um dia veio o golpe final
Você disse adeus sem dizer nada.
Saiu na madrugada
Não voltou.
Eu, sem semblante
Fechei a porta
acostumada.
Sentei na cama
Despi-me de toda Lua.
Nua, há muitos anos atrás
No céu, silenciosa e estanque.
E senti uma presença
Que não era a minha.
Linhas de outra poesia
Não eram "Pseudônimo".
Pela minha nudez envergonhada
Ouviu-se meu grito
Anônimo.
Do livro: "Louvores e cantares",
Blocos, RJ, 1999
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