Começo pelo começo
bem calmo nesse arremesso,
e a boa velocidade
vem nos dedos sem alarde
A pressa que traz desastres
está fora desse catre
e a cama dos seus desejos
é dela e dos meus harpejos.
Música de descoberta
é a que vem tão aberta
que sabe a chave da cela
inventando os tons da tela.
Sabe soltar essa fera
presa na teia da espera
breve sopro no pescoço
toque macio no dorso.
As mãos em concha nos seios
colinas do meu passeio
sou cuidadoso alpinista
sei do mamilo a conquista.
A língua meu artefato
se atiça com muito tato
vai do ouvido ao seu regaço
e lúbrica banha o espaço.
O tempo se perde inteiro
num relógio sem ponteiros.
Já o disse certa vez
nas curvas da sensatez.
Os sons que saltam do corpo
úmidos de tanto rogo
se abafam num bafo quente
vapor de tesão fremente.
Há mistérios nas palavras
que nem a memória grava
são do instante a liberdade
que o vulgar vem sem as grades.
É quando desço ao regato
revelando no meu trato
o retrato e seu reflexo
toda a magia do sexo.
E o beijo mais escolhido
pousa nos pêlos tecidos
crespa canção guardiã
do milagre da manhã.
E ligeira se aligeira
a serpente mais rasteira
de língua malemolente
amaciando o presente.