Girassol na tarde
se curva em reverência:
o sol se vai.
Abre o camponês
sulcos de arado na terra.
Em seu rosto rugas.
Seis hora da tarde:
sons de cigarras prolongam
os sinos do templo.
Cochicho de folhas.
Varre o vento na calçada
secas lembranças.
Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Noitinha na várzea:
com a lua na garupa
búfalos regressam.
Ao sol na vereda
o ventre inchado em rodilha
jibóia a jibóia
No alto a lua fria;
no prato a sobra da janta:
beiju desprezado.
Canto e contracanto:
o pica-pau reclamando
do som do machado.
Na soleira do sítio
a negra graúna canta
ao silêncio do sol.
Broca no bambu
deixa furos vazados:
O vento faz música.
Céu de primavera.
Nas açucenas floridas
dura mais o orvalho.
Jogando a tarrafa
caboclo desfaz a lua.
Pesca estrelas de escamas.
Abro o armário e vejo
nos sapatos meus caminhos.
Qual virá comigo?
Vento de verão
vem com bafo de mormaço —
garoa ameniza.
Coruja na cumeeira
arrepia no seu canto —
a viúva reza.
Folha no rio
vai para o mar sem volta —
chorão se renova.
A cigarra canta
o anúncio de sua morte —
formigas na contra-dança.
Sobe a piracema —
ano que vem outros peixes
nadarão de novo.
Apenas um gesto
e o homem é capaz de vida —
reparto o caqui.