Me dê loucuras.
Me dê loucuras pra qualquer momento,
e sonho lúcido de cada encantamento,
que eu o tenha, como tenho o vento.
Me dê talheres.
Me dê talheres pra qualquer comida,
pois o doce de cada fruto, de que me alimento,
será, então, mais doce que a amargura.
Me dê notícias.
Uma notícia de qualquer partido,
que eu me parto e permaneço inteiro,
nesse meu lado branco de brochuras,
(que o tempo alegra, como devaneios).
E essas loucuras?
Eu as preencho com meu jeito pouco,
de dizer versos,
e inventar imagens,
como o alento de quem está por perto.
Dorme, minha vida.
E Dorme solta, com os seus ruídos.
Deixa, que eu deliro por nós dois um pouco,
Me dê idéias no meu pensamento.
(seu sono brinca de brincar comigo,
fazendo contas que não está comigo.)
Me dê motivos,
de te acordar com um sorriso largo,
de te abraçar, te dar meu beijo amargo.
Nem tive tempo de escovar os dentes,
antes que a luz do dia invada,
por entre as frestas de madeira e vidro,
redesenhando tudo pelo avesso,
roubando o sonho que me mantém atento.
Me dá seus chutes, desatentos,
Me dá seu peito, que eu reconheço,
Que a minha boca molha,
Que o meu desejo quer a viajem,
dessa aventura de desalinhos e de suores novos.
Me dê meus filhos,
que esse ventre já guardou consigo,
para fazer um todo, inteiro,
para banir esse medo antigo,
de não ser nada, só esquecimento.
Me dê a noite,
Tal qualquer noite, para os meus amigos,
Que vem comigo pra dizer bobagens
e construir vertigens.
Me dê malícias, pra eu gostar de sorrir contigo.
Me dê o açoite da palavra rude,
do seu carinho.
Me dê um pouco do que é divino.