VISÃO
Um anjo bateu lá em casa
à meia-noite em ponto.
Já tinha feito minha cama,
dentes com escova escovado.
Pra dormir estava pronto.
O anjo entrou reluzente
com luz a sair-lhe dos dentes.
O anjo sentou e quis conversar.
Conversas de noite, de papos de anjo.
Palavras doces, sutis sem ardis.
O anjo passou toda a noite
a contar-me estórias.
Estórias vividas de amor rechaçado,
de crime vingado, de beijos roubados.
De coisas achadas ou soltas na vida.
Rasgou lá no peito com muita emoção,
tirando de dentro o seu coração.
Assim eu dormi escutando esse anjo.
E quando acordei na barra do dia,
eu vi que o anjo partia.
Fernando Tanajura Menezes
Do livro: "Retratos e Coisas do coração", João
Scortecci Editora, 1995, SP
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