Amanhã ela, e não importa quem seja ela, parte.
A mim é impossível precisar o tempo transcorrido.
Dias fantasticamente disformes foram esses,
libertos de lógicas e medidas
Rendo-me, poderia tanto ser o nascer como o morrer...
todavia só posso dizer que é vida, ainda.
Não ouso trair-me ao falar a palavra 'Amor ';
mas não é a vida uma eterna traição?
As vezes vejo-me perfumado como um Pequeno Homem de Deus,
que vezes ou outras perde-se em sua embriaguez.
Pondo-se a escalar idealizadas montanhas...
para irromper em diálogos tão paranóicos quantos
divinos,
a herética e infantil certeza de que o sacrificador é
dotado de mais
ternura que o sacrificado.
Senti algo, eis tudo!
Poupo-me de mais incoerências, calo-me a respeito de como senti.
Somente uma entre tantas coisas que existem apenas por existir;
que sem explicações nascem;
que sem explicações morrem;
um fim lento;
necessário;
indigno...
de como quem morre somente por ter nascido.
De meu conforto nasce a minha dor,
de minha dor reverberam minhas juras,
em minhas juras exercito minha humanidade.
Seu lindo rosto, ele há de ir para o inferno.
Não há em nós uma desmedida vaidade?
Resta-me a intelectualidade e sua miséria;
entretanto negarei com fervor a metafísica...
sou apenas mais um a plagiar Álvaro de Campos.
Quanto as metáforas...
bem, é melhor esquecê-las;
não são elas tão egoístas como nós?;
elas também não tingem em imutáveis tonalidades
as suas impressões?
Ó, amanhã estarei me masturbando...
pensando em você, é claro.
Um gozo de origens tão desconhecidas que me alivia chamá-lo
de mecânico.
É necessário que ao menos uma vez as coisas tenham sentido;
talvez ainda seja possível certa dignidade;
aguardada deserção; talvez eu até sinta vergonha.