A casa estava bagunçada naquela tarde de agosto
É como se não soubéssemos o que ia acontecer
É como fingirmos que não nos causa desgosto
Nosso porta-retrato quebrado a apodrecer
Atirado em um canto qualquer sendo pisoteado
Não simbolizando nada que importe
No mesmo chão que acaba de ser manchado
Pelo impuro que tem nas mãos o dom da morte
Teu corpo ainda é belo, mesmo sem vida
As pílulas que restaram serão suficiente
Agora para mim não há mais saída
Ceifar minha vida é o mais decente
Nunca acharão minha espingarda
E se acharem eu não estarei aqui para ver
Justiça não falha porém tarda
É chegada a hora de adormecer
Quantas tomo? Uma duas ou três mil?
Não importa, o quanto for preciso
Todo o conteúdo dessa droga em meu corpo vil
E eu deixarei de ser indeciso
Antes que a dama de negro me leve embora
Pinto nossos nomes na parede branca
Com teu sangue escuro , que agora
Parece um vermelho belo, uma cor franca
Deito ao teu lado, para te buscar no além
Questão de segundos, de momentos
Os acordes do baixo e do sax também
Hão de amenizar meus sofrimentos
Escuro e claro, tudo no mesmo segundo
Música suave, gosto do beijo dela
Teus olhos me são nítidos como me é o mundo
Que agora deixo, com uma saída bela
Cannabis
Beijo doce e embaçado
Que com a cadência impura de noites de lua
Impele uma imagem fria e crua
Mostra o belo traçado
Da fumaça no ar
Erva forte e serena
Mesmo em dose pequena
Entorpece e põe sorrisos
Nos rostos
Dos velhos e dos novos
Dos maus e dos bons
E faz com que a onda verde prolifere
Esquente e embriague
Todo âmago e idéia
Abra a mente e mergulhe profundamente
E leve felicidade
A toda atmosfera