Se você quer compor um haicai
à moda de Bashô,
mesmo imperfeito, verifique primeiro
se já viveu inúmeras vidas.
Comece por despojar-se do supérfluo
das vestes da alma
paletó de esnobismo
camisas de inquietude
agasalhos de orgulho,
meias de apegos.
Deixe o expírito, em síntise, aquietar-se,
desnudo.
Perceba o cintilar da essência de tudo
Veja o mundo com o olhar dos anjos,
faça de seus ouvidos concha de
inocência,
imite o Poeta Francisco.
Deixe que o silêncio
seja sua própria carne.
Junte, no embornal da viagem
às sendas de Oky
da vida, poucas palavras:
lua, folhagem, templo, relva, primavera,
garça, brisa.
E, por que nãp?
pulga, piolho, o mijo de um cavalo.
Derrame sobre elas
um punhado de estrelas
e as espalhe no papel.