Dos meus olhos negros infindos
Principia uma lágrima
Gota de sangue. É orvalho
Pinga sobre a tela ... no esboço
Do meu rosto inacabado.
Gota vermelha que faz minha sombra
Num crepúsculo infernal chamado terra
Onde surge um sol que se tomba
Imaginada cor d'uma terra destronada que se encerra.
Das minhas mãos rosadas em artifícios
Dança o pincel; cor de marfim em precipícios
Avança sobre meus cabelos negros; traçados
Em desalinho tentando na tela vençer o cansaço.
Tela ferida; esquecida pela conspiração divina
Qual retina d'uma tinta incolor
Um doente é néscio pintor; rotina
Que tenta por neste painel minha vida sem cor.
No fundo anêmico deste traço fosco
Surge a crueldade vazia do meu rosto
Uma lágrima desdenhada no olhar
Feito sangue, que pinga incessante, num crepúsculo mar.