Quem, não tendo olhos,
seguiu descobrindo as coisas do mundo
tateando suas lições de cego incomum
com nímia largueza de movimentos,
teceu na lentidão sua fotaleza
forjada de acordes imperfeitos.
Os dedos de escultor
de miniaturas vagueiam feito
candeias soltas no ar, afoitos em procurar,
procurar na imensidão azul do nada
suas próprias cores imaginárias
para com elas pintar todas as coisas.
Só a noite é absoluta,
um oceano de possibilidades,
por onde passeiam as mãos
tangem o infinito. Que prazer!
Tudo inconsciência e sonho,
misto de treva e imaginação.
Segue pensando pelo caminho:
quem sabe Deus seja
um homem cego que tudo imagina
e o mundo seja sua cabeça
onde vivemos nossos sonhos
dentro dos sonhos de Deus.