Mar ignoto, mar de tormentas,
mar de esperanças, mar de outros sonhos.
Mar de trazer especiarias,
mar de fazer calmaria
e o porto que fica
onde fica Maria.
O mar está calmo,
a esquadra se deixa
a oeste,
sem medo e sem ventos
(em Tordesilhas de Espanha
a herança do mundo
fica de meio para Portugal).
Vera Cruz, Santa Cruz,
gentios de pele morena,
uma gente pequena,
altiva e sem roupas,
vergonhas à mostra...
Ah, Maria que ficou no porto,
no Tejo! São tantas
as semanas de mar
e de homens,
e são dóceis as gentes
nas terras ingentes...
Uma ilhota em mar próximo,
uma cruz de Jesus,
o grão capelão
e a Missa Sagrada
sagrando o achado
da grande ilha de Vera Cruz.
(Os gentios, lá longe).
Outra Missa haverá, e aos índios
água benta e batismo
e a forte mão portuguesa
de El-Rei Dom Manuel,
Primeiro e Venturoso.
A terra, "em nela se plantando,
tudo dá", e nelas, nas índias,
também se pode plantar.
Mas havemos de ir,
descobrir outras terras,
converter outros povos
e volver à mãe-pátria,
trazendo alforjes com especiarias
e muitas saudades
de novas marias.