CHUVA DE CINZAS
 
                Chuva de cinzas...Cai a tarde lá por fora
                na estática mudez da Terra triste e viúva;
                e, da tarde ao cair, sinto, minha alma, agora,
                embuça-se na cisma e no torpor se enluva.
 
                Hora crepuscular, hora de névoas, hora
                em que de bem ignoto o humano ser enviúva;
                e, enquanto em cinza todo o espaço se colora,
                o tédio, em nós, é como uma cinérea chuva.
 
                Hora crepuscular - concepção e agonia,
                hora em que tudo sente uma incerteza imensa,
                sem saber se desponta ou se fenece o dia;
 
                hora em que a alma, a pensar na inconstância da sorte,
                fica dentro de nós oscilando, suspensa
                entre o ser e o não ser, entre a existência e a morte.
 

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