Não te amava,
quando te escondias
incomodamente entre minhas pernas.
Quando através de dores minhas
percebia que não ficarias muito tempo
naquele limbo de carne e ninho
naquele árido caminho de crescer
descer e nascer para nada,
pouco me importava.
Não, eu não te amava.
Se te fosses, jurei, não sentiria.
Nos momentos de trabalho
pelo médico proibidos,
jurava estar pronta para que te tornasses
um monte de sangue,
não me importava.
Você nasceu afinal fora de hora,
antes do que eu pensava.
Não, não posso dizer que eras bonita,
seis dois lados eram desiguais.
De mim muito pouco querias, aliás.
Parecias viver de ar,
meu peito te cansava
ou não querias incomodar.
Berrei ao mundo: somos duas desnaturadas.!
Nenhuma se amava.
No colo do pai, transitavas pelo quarto,
uma pinta nas costas cravada.
No entanto, como ingênua alma
aos poucos.me fiz conquistar
por bobagens engraçadas .
Quantos tropeços e conflitos.!
Quantos desencontros, infinitos!
Depois lembro de pintar seu rosto no carnaval:
já tinhas doze anos e notei que eras linda de assustar.
Ainda bem que eu já tinha meu moço
e a ele não mo irias tirar!
Fêmea com fêmea descobri
como te amar,
e a coisa foi crescendo.
Por milagre do destino
acatavas tudo que ditasse
meu coração pequenino.
Comecei a pedir sua opinião,
tambem...afinal.....
Comecei a me deixar amar e
e a te admirar.
Agora, mulher feita, linda,
culta, mais que perfeita,
segues teu caminho, filha..
Vais casar.
Eu fico aqui a rezar
penhorando meu carinho
para tudo dar certo,
minha prece, enquanto caminho
o começo de meu deserto.