INVENÇÃO DE ORFEU
Canto I, 26
Qualquer que seja a chuva desses campos
Devemos esperar pelos estios;
E ao chegar os serões e os fiéis enganos
Amar os sonhos que restarem frios.
Porém se não surgir o que sonhamos
E os ninhos imortais forem vazios,
Há de haver pelo menos por ali
Os pássaros que nós idealizamos.
Feliz de quem com cânticos se esconde
E julga tê-los em seus próprios bicos,
E ao bico alheio em cânticos responde.
E vendo em torno as mais terríveis cenas,
Possa mirar-se as asas depenadas
E contentar-se com as secretas penas.
Do livro: "Invenção de Orfeu", Livros de
Portugal, 1952, RJ
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