A gente não sabia que era índio,
porque, se fosse mendigo, aí sim,
se fosse pobre, a gente batia e jogava longe,
porque da pobreza a gente quer distância.
Se fosse mulher, a gente espancava e estuprava.
Não necessariamente nessa ordem. Mas não matava!
Se fosse trabalhador a gente demitia
e, de quebra, botava a justiça contra ele.
Se fosse doente, fazia esperar até morrer.
Se fosse negro então, nem sabia o que fazia
com a cabeça do desgraçado e pobre coitado.
Se fosse sem-terra, atirava.
Pra acabar com a folga desses caras que invadem
as fazendas que herdarei assim que puder.
Se fosse político, a gente torturava,
mas se dessem proprina, a gente deixava passar.
Se fosse você, eu cuspia!
Se fosse eu, ah, aí vocês estariam fritos!