A POESIA SE ESFREGA
NOS SERES E NAS COUSAS
Nunca sentiste uma força
melodiosa
Cercando tudo que teus olhos
vêem,
Um misto de tristeza numa
paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na
morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia
na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma virgem
esquecida?
Num circo, nunca se apoderou
de ti, um amargor sutil
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Seres humanos imitando um
reptil?
Nunca reparaste na beleza
de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a
outro pólo?
Nunca te empolgastes diante
de um avião
Olhando uma locomotiva,
a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força
que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua
dor
E na delícia da tua
alegria?
Pois então, faz de
teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda
a amplitude
A grandeza infindável
da poesia que não percebes
E que é tamanha!
Do livro: “Mundos oscilantes”, José Olympio, 1962, RJ
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