Aqueles caras da década de 70
viraram flores finalmente.
São agora flores do mofo
e descansam em paz
nos cemitérios das bibliotecas públicas.
Enquanto isso a garota branca
olha para os seios murchos
e senta-se ao sol da segunda-feira
para folhear sua revista de moda
e assassinatos gentis.
“Vamos fazer compras, meu bem?”
“Oh!, é claro amor!”
E é com isso que os sonhos
vão virando economia doméstica,
estrelas empalhadas no fundo dos olhos.
Confesso que foi difícil
aprender a sangrar sozinho.
Também não foi nada fácil
ver os amigos virarem idiotas.
Mas não vou chorar agora que trinquei os dentes:
não quero brincar de medo no escuro e nem tentar fugir.
Eu sei: é uma velha estória
amanhecer vivo todos os dias.
O sol frio nos pés, essa palavra úmida,
esse par de olhos embolorados
já não podem mais alcançar a estrela
e aqueles caras da década de 70
tentaram e conseguiram embarcar para a Nave do Fim do Mundo.
Lisérgicos, aqueles caras da década de 70
deixaram tudo ácido
e os trocadilhos são por conta da casa.
Mas venha consertar meus dentes podres, Garota de Aquário!
Não há medo agora que estamos seguros no refrigerador.
Vamos passear depois do bangue-bangue
porque não há mais perigo para nós que estamos
limpos.
Aqueles caras da década de 70
estão finalmente mortos com as flores nos dentes
e o domingo vai ser de chuva
com poucas possibilidades de sol.