Que poesia é essa
se não posso sorrir?
Olhe para o rosto do meu irmão
que você irá entender o que estou sentindo.
Um dia em minha praia e você aprende
a mergulhar de olhos abertos.
Não tenho sono antes do dia amanhecer
porque o silêncio do céu puro de Agosto
me deixa expansivo.
Passo as noites olhando para o pássaro de madeira
que está ao lado dos clássicos de capa dura vermelha.
O medo está pousado em algum canto indeterminado da sala.
Restou de mim um vaso de plástico
com uma azaléia morta do outono,
uma toalha de coraçãozinhos e todo o espaço imóvel
do espelho sujo do banheiro.
A boca sempre seca, essa saliva amarga
que mastigo de olhos baixos,
esse sorriso escuro, a mão molhada de suores frios,
a certeza triste de minhas botas furadas,
essa palavra única que pronuncio como um eco na chuva
não redime e nem faz cantar a bêbada estrela.
Mas, mesmo assim, não sorrio
e nem tampouco choro:
Sou sempre o mesmo,
permaneço, fiel, sempre, ao meu mudo blues.