Brasil é quando se começa a crer
no vir a ser do que se pode ver
pode ser uma fuga de ipoméias
pode ser contraponto de ninféias
Brasil é riachão com um cavalo
fio de sangue a madrugar o galo
dourados agarrados na tarrafa
do lenço da baía anil garrafa
o pescador atira o aranhol
de teias luminosas: cai o sol
e mar! amar! e mar! e mar! amar
o mar! o mar! talassa! o mar! o mar!
Brasil: aves de luz dão entrevistas
em fusões iluões impressionistas
Brasil é só aquilo que ele é
pode ser Turner pode ser Mané
do "Deus do Céu assim eu nunca vi"
quando se vê o que se vê aqui
O crioulo que leva uma rebeca
depois que tudo o mais levou a breca
entre cacos de pedra uma criança
criada à nossa imagem e semelhança
Brtasil flamengo luso americano
gauguin monet seurat corintiano
dos mineirões gigantes morumbis
maracanãs pelés gregos tupis
Brasil é breto-e-branco brasileiro
preto de branco-branco de pandeiro
Brasil de jaburu nefelibata
de ornato calipígio de mulata
do vermelho alagado de amarelo
dos falos e das flores de labelo
de luz e cor do amor ao desamor
das brisas tamisadas do calor
dos prateados módulos lunares
de seus arranha-céus orbiculares
dos degraus sagrados de memória
por onde o pobre agora sobe à glória
das obras em tensão no bambual
das tardes de modinha imperial
Brasil do devagar tão de repente
e um vendaval de cores corre a gente
Do livro: "Trinca de copas", Achiamé, 1983, RJ