Como relembro tanto aquela madrugada
De gelidez transpondo a fronte angustiada
E de vento a gemer nos braços das ramagens...
Era ouro e palidez aquela lua enorme,
Que inda estende o seu manto à cidade que dorme
E faz ressuscitar um turbilhão de imagens...
Tudo estava em silêncio triste como a morte
E as estrelas azuis brilhavam longe, ao norte,
Como lumes de amor prestes a se extinguir.
A estrada era tão branca e a ânsia indefinida
Que eu não sei bem porque não exalei a vida,
Como uma ave de sol que procura fugir...
Havia em minha face uma expressão estranha
Um rictus de dor e uma angústia tamanha,
Que ao fitar o luar vi meu rosto sofrendo.
E inquiri, balbuciante, às sombras e ao sigilo
O que seria, céus! o que seria aquilo
Que esparzia tristeza em tudo o que ia vendo?
Silêncio. A grande dor não deu resposta. Apenas
Houve um breve carpir de trêmulas avenas
E lágrimas do luar nos horizontes baços.
E a triste voz do vento, a deslizar, chorando,
Um nome de mulher passou pronunciando
E fugaz como o amor perdeu-se nos espaços...
Do livro: "Inspirações - II", Senado Federal, 1989, DF