Permita, meu senhor, que me apresente
Sou o amante virtual da sua esposa
E se assim à sua caixa venho
Postar essa mensagem, não se espante
Que sei que, se você a teve antes,
Sou eu que agora habito a sua mente
Na hora em que ela vive pela rede
E você vê TV, indiferente.
Mas calma! Não se irrite desse jeito,
Que o respeito sempre é bom pros dentes,
Nem pense em me mandar um bomb-mail
Ou encerrar no provedor a conta,
Que eu desse iceberg sou só a ponta
De tudo o que ela sonha e não tem feito
Na hora em que ela brinca pela rede
E você ronca alto, no seu leito.
Mas não estou aqui para humilhá-lo
Nem criticar você de forma alguma,
Desejo só pedir, parceiro caro,
Que saia sempre um pouco mais de casa
E leve os filhos sob a sua asa
E não fique a jogar campo minado
Na hora em que ela quer entrar na rede
E eu espero ansioso do outro lado.
E não me julgue assim um salafrário,
No fim sou eu quem te inveja, amigo,
Na soma dos esforços e dos ganhos
Perceba o quanto o caso é lucrativo:
Se eu mantenho dela o fogo vivo,
Você depois recebe o seu salário
Na hora em que ela mata a sua sede
E eu me recolho ao leito, solitário.