Mais um sexagenário na praça!
Difícil ser sexagenário.
Aos cinqüenta, é chamado de maduro, conservado
— e agüenta o tranco.
Aos setenta, dirão: como está bem nessa idade,
sem esconderem a alegria de não estarem lá.
Aos oitenta, com certa compaixão,
admirados de que ainda estejam por aqui,
exclamarão:
que bela idade, quem me dera. Sem, contudo,
aprofundarem o pensamento
na real possibilidade de se verem provectos varões,
como se a juventude ou mesmo a madurez
fossem eternas.
Difícil ser sexagenário. Não está lá
nem cá.
Pensa que está no contexto das coisas,
mas verifica por um ou outro detalhe
que já o empurraram para o lado.
Sexagenário é o que foi e não será mais.
Não tendo a desenvoltura do cinqüentão
nem o charme do ancião,
sexagenário é apenas... sexagenário.
Do livro: "Relógio de areia", Editora Kelps, 1998,
GO