Trilogia

 I.

e o que faço, enquanto te espero?
tento controlar a ansiedade,
não fumar um cigarro após o outro:
quero meu hálito puro,
pra sentir todo o sabor de tua boca.
não, não me banho já:
quero que sintas o frescor da pele,
talvez até um pouco úmida,
cheirando só a sabonete....
não maquio meu olhos:
quero-os brilhantes só com  a tua chegada...
nos lábios, um pouco de batom... vermelho?
não percebes que é vermelho?
claro... tenho a face enrubescida...
 tão mais vermelha que o batom.
entro e saio...
abro e fecho portas,
janelas...
acendo e apago luzes....
visto-me, dispo-me, deito-me...
não sei...
disponho-me, sim,
tua.
e o que faço enquanto te espero?
 
II.
e se  espero e você não vem?
se me banho com rosas,
perfumo meus cabelos com jasmim,
espalho flores pela casa,
visto o mais belo, esvoaçante, insinuante vestido
e ... não vens?
e se me deixas, nua, andando pela casa,
com a respiração em falsete,
e se me deixas, ou não vens....
e a cama fica vazia, nua
de sonhos, de prazeres..
pra nunca mais?
e se não chegas, ou tardas,
ou trazes lágrimas aos olhos meus,
tão teus...
se não vem, se não vem...
morro..
e não nos braços teus
— desejo maior de esperar-te.
 
III.
Vieste...
Chegaste...
chegaste, sim...
mas tarde, tão tarde....
as flores todas da casa já haviam murchado,
os olhos (meus, tão teus) já embaçados pelo sono.....
Chegaste, sim,
mas tão tarde....
e vinhas em passos trôpegos.
Pressenti no teu hálito
o cheiro de outras bocas...
No teu corpo, o contato de outros corpos.
E eu,  que menina, te esperara
Chorei, como mulher.
 

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