CONTINGÊNCIA
Quando passo na Duarte Coelho (*)
todo mundo se me faz revelar
verdades inauditas
que o Brasil faz resplandescer
e só ele sabe reluzir
O menino chora ao meu braço
— Me dá uma esmolinha pelamor de Deus!!!!!!
Choraminga no meu ombro confuso
De olhos sombrios não sei quê responder
o bolso... o bolso... não tem nada
mas... o coração...
o coração tenho pra chorar.
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(*) Duarte Coelho é uma ponte do centro
do Recife. Lá estão, à noite, famílias envolvidas
em caixas de papelão para amainar o frio noturno. Meninos e meninas
fazem uma prole de oito filhos numa verdadeira escadinhas, 10, 8,
7, 6, 5, 4, 3 e 2 anos de idade. O pai embriagado ronca; a mãe clama
pela caridade alheia. Às 11 horas da noite.
Do livro: "Canção de Terra", Editora Bagaço,
1987, PE
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