Meu pai olhava os cavalos do patrão com inveja.
Minha mãe, debruçada na panelinha,
cozinhava a ansiedade de minha irmã faminta.
Eu sozinho menino entre adultos,
ilhados como Robinson Crusoé
numa história interminável.
No meio-dia escuro das sombras numa voz
que nos sobrevoou com o pesado orgulho dos feridos
alguém sempre esquecia que existia almoço.
Eu já sabia que aventura
é coisa de livro, de poesia.
Não entra em casa.