Poesia protopia
Nas veias da margarida
Nas asas do colibri
Falo por muitas falas
Poesia protopia
Palavras de açúcar
E de sal
Poesia entropia
Nas carnes do limoeiro
No oco da canjarana
Nos uivos da ventania
Poesia protopia
Pra baixo do abacateiro
Entre os poços
Mal tabuados
De meu dizer
Desprogramado
De poeta maldormido
De profeta tal ventrículo
Poesia entropia
Falo minhas falas do pai
O criador que me visita
Põe-me na língua
As palavras
Sementes selecionadas
De milho, feijão, batatinha
Põe-me na língua
A verdade
Lavradas terras de alfaces
Vergas de capins mians
Nas terras do verbo belo
Põe-me na vida
A beleza, uma Mariamor
Canteiros regados de cor
Com vinhos de tantas
Vinhas
Onde brotam também
Vigorosas
Ervas daninhas
Poesia protopia
Poesia entropia
O velho pai que me visita
Manhã tarde e noite
Todo dia com a colher
Na dose certa
De meu entender difícil
As pedras sobre as pedras
Os seixos sobre os seixos
As águas sobre as águas
E os ventos truvistando
Tudo
Poesia entropia
Onde o fogo arde
E os metais incandescem
Onde os insetos lêmptos
Circam os corpos tênues
O pai
Esse pai que me visita
Traz os grãos
De que preciso
Os signos esmerilados
O sonho descontrolado
Os logaritmos abertos
As vozes amigas
No vento
As imagens lestas
Do que o tempo tange
Poesia protopia
O pai que me visita
Vem dizer bom dia
Ao bom dia
E conduzir os meus passos
Para fazer
Seus próprios passos
Na estrada imaginária
Poesia entropia
Poesia protopia
O pai toca a música
Sem som
Canta o canto sem palavras
Ensina o verbo desletrado
E parte
Como sempre faz
Uma lua deitada no chão
Um sol raiando nas árvores
Os pássaros aninhados
Um pequeno sinal
Dos tempos
Nas grotas do ditonovo
Meu dizer em precipício
Sobre teu ouvir espaçoso
Verbos sobre verbos
Esteira de luzes
Palavras
Dança de metáforas
Ausentes
E nós como crianças
Contentes
Um vôo só rumo ao céu
Céu de radiações mágicas
De tuas letras tãovivas
Na primeira cartilha
Entreouvida de soslaio
No canto do pátio
Na fieira de estrelas nuas
Das noites de nãofazer
Noites de versos
Prendidos
Nos varais
Varais trançados
De cipós
Caules torcidos
Pra cima dos pés
Onde escondemos segredos
Segredos unhasdefome
Segredos de malfalar
Entre um homem
Uma mulher
Um gesto de agrado
Faz bem
Meu poema
Escrito a unha
Sobre tuas ancas nuas
Nuas nuances de um mar
Que nunca passou por aqui
Furo três potes de mel
Com minhas palavras azuis
Meu ímpeto de oprimido
Proletário, malvivido
Um dia o guripoeta
Faz crescer
Seus poemas redizidos
Um dia o fogo acende
Grandes fogueiras no céu
O céu o mar a terra
O meu ar
Ar dos tratos que respiro
Todo dia em todolugar
Poesia protopia
Poesia entropia
O lobisomem que veio
É o mesmo de tresontontem
Pêlos de feltro, vermelhos
Olhos de vidro fumê
Dentes de alhos criados
Unhas de ossos de chifres
Fios de lâminasespadas
Nas garras da noite negra
Poesia protopia
Poesia entropia
No vento que o verbo traz
Nas vozes perdidas
No tempo
Em tudo que não é mais
O lobisomem que veio
É o dicionário branco
Que adiciona novas palavras
Em cada cartada lançada
Nas mesas de jogatinas
Onde o poeta lancina
Seus dizeres transpeiros
O dicionário dos sonhos
Enfeita o quarto e a sala
Dorme sempre sem sono
E fende as partes pudendas
Dos muros
O dicionário dos sonhos
Faz-se anárquico, caótico
Não tem início nem fim
Começa onde imaginas
E termina onde começa
Palavra sobre palavra
No vem e vai do nascer
Crescer saltar e morrer
Sobre uma coisa
Outra coisa
E coisas que se perfilam
Entrecruzam-se
Transtorsugadas
Para cada feia
Uma raiz quadrada
Para cada linda
Uma flor amarela
Na ponta do colibri
: na ponta do colibri
sorvi o pólenirisado:
Na ponta do colibri
Ouvi quando superman
Falou, exultou!!!
Que tinha nascido
Seu filho Martírio
A Miriam Lane, a Kate Lyr,
A Beth Milan,
Se não me engano
Eram mães felizes
No deserto do Arizona
Ou num barco
No rio Mississipi
O guri da cara quadrada
Da mente positrônica
E da raiz redonda
Com home page
Na Internet
O guri que aprende a voar
Mamando leite de cabra
Vai fazer poeira nos astros
Mijar cubinhos de gelo
Nos amplos espaços
Por detrás dos cactus
De carbono XSWPTO
Vi o superman falar
Que o orbe congestionou
Que Netuno empacotou Plutão
Tudo no mesmo
Canhão JDKX'PUQ@S
De cânhamos desconhecidos
Uma gota e me sustento
Nos fiostecidos
De aranhas tontas
Tontas aranhas no céu
Superman contando todas
De que o menino vem quente
Traz amor pra toda gente
Conhece de cor a tabuada
Obedece sempre
Aos mais velhos
Já fez poema de chegada
Com palavras
Desconhecidas
Uma metáfora libélula
Dançando noites fúrnidas
Encima do pedreirio
O guri já traz de berço
O verbo voador
A capa de estrelas
Mágicas
Letras desemontar
Palavras por só fazer
Minúsculos dínamos
De metal e acrílico
E o pai lívido
Superman poeufano
rende homenagens
Ao supremo criador
Para que o filho persiga
Sua sina de poeta
Verbosignalizador
Verbosignalizador
Riscos de surpresas
No céu
Capas coriscando
Imensas letras
Superman em rigozijo
Rende homenagens ao pai
E o pai configura os filhos
O filho superman e o filho
De superman
Entre versos mal sinalizados
Na noite nevooooooenta
De nórdico inverno
Um pecado
Contra a língua
A sintaxe desprogramada
O léxico doporacaso
Fazendo suas charadas
O filho do superman é belo
O pai lambe a cria nas estrelas
O filho do superman é superbelo
As letras descem em guirlandas
Lampejam sóis ardidos
Lançam
Sais odores cores
Chispas ígneas
E dizeres
Maldormidos
Maldormidos os versos
Que o pai lê para o filho
Maldormidos os santos
Transressucitados
Maldormidas as palavras
Frias
Na noite nevooooooenta
O poema se inscrevendo
Com flocos de neve
Superman satura o verbo
De tudo sempre dizer
No celular
Comprado à prestações
Na Jonh River & Co.
Ainda ontem superman
Desmarcou consulta
Na Clínica Oftalmológica
Dr. Rinsus
Que iria rever sua visão
De raio X
Parece o foco
Estava deslocado
E sempre o enganava
Focando na casa ao lado
De onde sempre mirava
Dadá, Maravilha
Mestre no futebol
Ouve o filhodovento
O homem
Relâmpago de signos
Perplexo
De fatos comprimidos
Dadá ouve com afinco
As palavras superambíguas
E dribla seus dribles
Saltos de atleta
Pelas letras infrícuas
Dadá sabe do que não se diz
No dizer entendido de letras
Claras redizidas por superman
Dadá não precisa conhecer
Os significados escusos
E o verbo lancina gritos
Pelo infinito
Superman desce
Após breve turbulência
Oppsssssssxxxvvvvsssss
Uóinc uóinc uóic
Uóinc óicxwp
Uéwxspss
Os céus não estão
De bem com a vida
Sempre sóis
Arrremessados à distância
Cruzam os caminhos
De superman
Um meteorito por dia
Chutado
De uma dimensão à outra
Mundos paralelos
Que fecham círculos
Comprimem naves
E navegantes
Superman sempre alerta
Seu menino já nascido
Soletra versos inteiros
Para Dadá, Maravilha
Que agora ouve o filho
O filho de superman
Dadá não se dá por vencido
E faz o que lhe convém
Conta seus gols de placa
Os títulos todos
Que emplaca
No panteão dos heróis
E o menino se contém
Na precocidade genial
Do escolhido
Que sente o ânimo, tolera
O vento que o verbo traz
O menino configura
Os ditos transfuziados
Meiasverdades percebe
No que Dadá lhe confessa
E faz como
Uma criança, com amor
Uma moça
Uma doce criança
Faz por conta
Sua promessa
De nunca desiludir
O interlocutor
Dadá tralalá tralalá
Tralari tralitralá
Tá. Tá. Tá.
Transfuzeiros dizeres
Dobra a língua de falar
Geme encanta desencanta
Supreende arremete
Reverbera
Intera navega estelar
Sobre pássaros
De luzes que acontecem
Por acidente
Nos amplos espaços siderais
:Oriente e ocidente:
De uma conversa entrecortada
Por ouvires infantis
Onde o pai a tudo assiste
O escutar de seu guri
Poesia protopia
No impulso do espírito
Doido
Poesia entropia
Nas carnes do verbo belo
No canto do passarinho
Falo por muitas falas
Meu dizer de ventrículo
Dadá perfide de dizer
Ser o melhor, o magnífico
Entre os melhores
Dadá surpreende goleiros
Dribla retrancas duras
Faz embaixadas extraordinárias
E não cansa de prelecionar
Seus sonhos inacontecidos
Para o menino fã espacial
Depois do milésimo gol
O gole do elixir dos deuses
O sol apenas, sob seus pés
Como uma bola qualquer
Dadá, Maravilha
Não se cansa de viajar
Superman o pai prodígio
Pede ao filho Martírio
Que desligue o celular
E o menino agride o pai
Com um só escutar e rir
De Dadá, Maravilha
A noite já vai alta
Há uma conjunção
De asteróides em Saturno
Netuno continua impossível
E superman
Põe o menino nas costas
E sai, risca os céus
:Transvoeiro de verdade:
Nos pés palavras calçadas
No rosto quadrado
Olhos de tantover
E a visão de raio X
Fora de foco
Na capa
O universo contrito
No cinto metálico
A anticriptonita em cápsulas
No peito um verso inescrito
:Saudade:
Muita saudade
Das mães felizes
Mirian Lane,
Kate Lyr
E Beth Milan
No deserto do Arizona
Ou num barco
No rio Mississipi
Poesia protopia
Uns versos
Acidentados
Uns signos
Malsincronizados
Meu dizer desprogramado
Poesia entropia
No miolo do pão
Nas minas de carvão
Nas águas frias do mar
Nas formações internas
Da melancia
Poesia protopia
Poesia entropia
Falo minhas falas do pai
Tal profeta tal ventrículo
Tal poeta maldormido
Esse ser que me visita
Põe-me na língua
As palavras
Algumas más, outras boas
Segredos de rir à toa
Quantas de significados,
Dúbios ou trocados!?
Poesia protopia
Poesia entropia
Falo por muitas falas
Canto por muitos cantos
Invento por muitos inventos
Meu dizer acelerado
Sobre teu ser assoberbado
Poesia protopia
Poesia entropia
O lobisomem
Uiiiiiiiiivvvvvvaaaaaaaa
Sua sanha
De comer bosta de galinha
Os pêlos luzem
Vermelhos indissolutos
As unhas unham
Portas de casas velhas
Os olhos
:Vítreosfumês:
Secam moças nos varais
Os dentes de alhos
Brancos, criados
Sangram veios danados
Uma bolha de sabão
O sonho. Rebenta.
E tudo amanhece
De repente.
Jairo B. Pereira