O que terão as amadas
Aladas
Em - fadadas
Deslizantes
empoladas
dos poetas
Para merecerem tanto soluço
De métrica
Vomito alado
Noites inteiras
de pena na mão?
Olhavam como se olha
Andavam por sobre o chão
Mas por elas soluçavam
(ou apenas fingirão?)
os poetas todos perdidos
Na lua, no ar, no alto de um balcão
Que terão estas amadas
Sempre doces, belas, divinas
Sempre cálidas, sempre imprecisas
sem ramela no olho
sem dívida no cartão?
Que terão estas amadas, sempre pálidas,
sempre frias
Para prenderem, sorrindo
A mente liberta
(ou quem sabe só vazia)
no verso de regras exatas
nas cadeias da poesia?
As amadas dos poetas
feitas são
de medo
(que é esperança)
e juventude
(que é ilusão)
Queres que te diga poemas
Mas os poemas se vivem
Queres que brote de mim as flores
Como os orvalhos da noite
Mas os orvalhos da noite
Nascem do silêncio da madrugada
Do coração quieto da madrugada
Dos olhos abertos e brilhantes
da madrugada
Queres que eu te diga versos
Eu te digo: nada.