Entra, meu pesadelo!
A fuligem destes olhos não vai atormentar teu
ofício.
Nem as hélices que sustentam
as nuvens soltas no céu.
Entra, já disse! Não te preocupes.
A noite não chega perto de minha cama;
em mim, é sempre dia.
Mais ou menos como a luz fria que inunda
os escritórios e departamentos da alma.
Não sei se chove
ou se as lesmas ainda vagam pelos canteiros;
não sei se as flores artificiais da memória
possuem cores ou continuam pálidas.
Entra.
Não vou fugir às responsabilidades da existência.
Algo em meu cérebro
me impele ao abismo
ao mormaço
ao canto mais escuro do cinema
ao beco mais sujo da cidade.
Pode entrar. Meus pijamas de amianto
são bem confortáveis.
Estou pronto para dormir.