DEPRESSÃO
Sentado aqui feito um escriba
percorro num segundo Curitiba,
à mercê do tempo e dos ruídos
que martelam os meus ouvidos.
Corre o meu pensar deliberado
dando asas ao olhar compenetrado,
concebe-me apenas o impossível
semelhante à concepção do dirigível.
É o fruto do dia mais agitado
em busca do salário contado
embora a consciência me diga :
tu não és cigarra, és formiga.
E eu vejo, não muito longe de casa,
um e outro transeunte perdido,
coitado que a si mesmo arrasa,
adeptos da psicologia do vencido.
Algo bate e rebate na consciência
martirizando minha inteligência
como se eu fosse o responsável
por toda essa situação lastimável.
A depressão toma lugar na sala,
inibe meu sorriso e minha fala,
bloqueia meu intelecto
em todas as desgraças que detecto.
Por fim, a vida parece acabada
na minha concepção abalada,
vejo o futuro indignado,
um otimista que mudou de lado.
Tantos reclames de uma vida errante
soam ridículo e deselegante
quando acordo e penso novamente :
sou homem, sou útil, sou gente.
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