TRISTE CANÇÃO DO VELHO ÍNDIO
Na geografia do rio
trafega o motor-de-linha,
entre cargas e amargura
vai meu futuro sombrio.
São desoras, vejo a lua,
furando os nimbos do tempo,
na rede dependurado
diviso a curva do rio.
Comandante, olha o perau
onde mora a cobra-grande,
amarra o barco num pau
que eu já naufrago na vida.
Meu ninho na palafita
a mãe-do-rio levou,
Tupã era meu refúgio
veio Javé e o matou.
No jamaxi de guardados
vai um sonho moribundo,
quero achar um chavascal
pra me esconder deste mundo.
O boto me diz boa-noite,
chora comigo no fundo.
Motor-de-linha me leva
no rumo do nunca-mais
— quem sabe o reino encantado
onde hoje moram meus pais.
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