TESTAMENTO
Não nasci para contestar,
nada quero desafiar.
Deixo a vida me levar
ao sabor do tempo e do vento.
Se muito ganhei
e tantas coisas perdi,
tudo vou deixar por aí
na hora certa e no dia.
Até meu corpo maltratado,
bem usado, curtido por mil caminhos,
deixá-lo-ei para que os que ficam
façam dele o que bem entenderem.
Repartam-no, fique cada um com um pedaço
ou deixem-no tranqüilo servir
de alimento à Mãe Terra.
Joguem fora meus livros,
esqueçam meus pensamentos,
gastem todo o meu dinheiro
que com muito suor ajuntei.
De testamento, deixo somente uma coisa —
para os que ainda viverem —
um pedido singelo:
não deixem morrer a poesia.
Fernando Tanajura Menezes
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