EMBRYO

Eu sei tão pouco de você,
Tão espantosamente pouco!
Não conheço seu rosto, seu sexo,
Não vejo a cor de seus cabelos,
Não sei sua voz, seus murmúrios,
Qual sua fruta preferida,
Se quer cavalos ou livros,
Se ama o néon ou a alfazema.

No entanto, você flutua,
Flutua dentro de mim,
Flutua...
Mansamente, às vezes,
Outras querendo brincar.
Flutua no mar secreto
Que sou eu, e desconheço,
E a cada fração de seu corpo
Mais te anseio,
E mais te pertenço.

Eu sei tão pouco de você
E adivinho tanto!
Tento lembrar sua imagem,
Os seus traços nunca vistos
Tento sonhar seu toque
A sua boca nos meus seios
E pressentir sua pele
E a delícia do seu cheiro.

Não se afaste de mim,
Não me proíba o mistério,
Não me abandone agora que eu me permito a paixão.
Não vá, não me deixe, não voe,
Que eu ouso sonhar seu rosto.
Não me deserte assim
Quando eu consigo amar!

E vamos buscar a lua, a alfazema e os cavalos,
E as cidades de pedra
E os letreiros de néon.
E o que você quiser ver,
E o que souber encontrar.
Sentindo enfim o seu toque
E o meu leite em sua boca
E o macio da sua pele
E a delícia do seu cheiro.

Inara Couto

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