Pensei que meus dedos magros
pudessem seu aroma guardar,
minhas palavras mais firmes,
alguma certeza me dar.
Pensei que pudesse existir
Algo que eu não deixasse partir,
Um beijo seu que ficasse comigo,
Sem nunca minha face tocar.
Um dia pensei, minha querida,
Que seu sorriso fosse o único a me ferir,
E que não mais, em minha vida,
Outras mãos minhas mãos fossem amar.
Vejo agora esse lago raso a me refletir,
Meus braços enrugados outros braços acalentar.
Uma criança alegre vem de longe,
E com um pouco de paz parece nos brindar.
Olhamos para o nada, querendo tudo sentir.
Meu neto sente sono,
Minha mulher não sente como
É possível do nada fugir.
Ela se pergunta em silêncio
Se ainda resta em mim uma saudade.
Eu não respondo, ela não entenderia
Que o nada me diz, a cada dia,
Que as mentiras que pensei ainda vivem de verdade.