PARA EUNICE ARRUDA
Aniversário, cumpleaños, birthday, geburstag...
10 de junho.
Escrevo para você. Saudades.
Anunciei a todos a intenção
De aniversariar dentro do barco,
Em cima do rio Paraná, sozinho.
Espanto veio primeiro, compreensão
E aceitação vieram depois. Respeitaram.
Saí sábado, dia 8, cedinho, prometendo
Voltar segunda, dia 10, à noite.
Sabia que lá me esperava
O outro "EU" com quem precisava
Conversar.
O Eu mecânico, automatizado, rotineiro,
Previsível,
Precisava levar o Eu físico
Para encontrar o "OUTRO"...
O sol se põe no Mato Grosso,
Na outra margem do rio.
E o rio todo,
Se tinge de vermelho vivo,
E outras tonalidades, nascem e morrem
A cada segundo...
Nenhum momento é igual ao outro...
O outro "EU"
Mostra-me tudo isso,
Com a infinita paciência
Para o sempre aprendiz.
Ensina-me que deste mesmo lugar,
Há milhares de anos, ensinava também
Aos desaparecidos índios,
A antiga arte,
De adorar o sol,
Em sua momentânea despedida,
Talvez,
A única despedida bonita
Que possa haver...
Centenas de pássaros,
Garças brancas, patos selvagens,
Araras e papagaios,
Em orquestrada gritaria
Cruzam o rio,
E o entardecer...
As sombras avançam,
Apagando o último
Sorriso do sol,
Mas, amanhã, ele
Despertará os pássaros,
E os outros habitantes da mata,
Na mesma hora, em que
Todos estão acostumados.
" Se há luz
Ou se há sombra,
Tudo é ciclo,
Não morada. "
A paisagem se turva,
Como se vista através
Da água.
Não havia percebido as lágrimas...
O outro "EU "
Recua-me no tempo,
Muito, muito, não sei quanto.
" Hatayne Behuê Nhehe! Grito para a noite
Que esta acordando.
" Anaty Heraikeú" Saúdo as criaturas da floresta,
De todas as florestas
Antes de mim.
" Ambhoepe Nehereú "
Saúdo a mim mesmo
E a tudo que vive,
E já viveu...
Quando estiver mais escuro
Sairei com o barco para pescar, talvez caçar,
Ou simplesmente passear, integrando-me
Completamente
Neste mundo que sei que já foi meu,
Há muito, muito tempo,
Além de inventadas datas
Anterior,
A algum obscuro contar...
Algum dia,
Te trarei aqui...
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