A dor verdadeira,
a legítima dor,
dor de perda imensa,
de injustiça atroz,
esta dor te beneficia?
A dor te torna duro?
Torna-te puro?
Te faz exemplo
ou cão sarnento?
A dor presente te
impermeabiliza
contra a dor futura?
A dor te recoze a têmpera?
Arrasa ou solidifica?
Revolta ou edifica?
Pode a dor tatuar
linhas de virtude
entre os calos de tua mão?
Se não pode, que pode então?
Só açoita pelo sabor do estalo?
Só escarifica a alma porque
também o vento escarifica a pedra?
Ah, mas para que
se ocupar das mil
mal vislumbradas
funções da dor
se te basta saber
que ela existe em ti
como o espinho pertence ao cacto
que produz belas flores no deserto.