Alta madrugada em noite fria.
Meus passos reboam,
pela Rua XV, ora vazia.
Meu footing
fundamental e interminável.
Minha rua, meu grande sertão:
és pedra, asfalto, aço.
és além?
Quem me dera
sétimo, oitavo sentido
capaz de farejar na turfa do tempo,
rastrear debaixo deste calcadão,
fossilizado no piche,
o curitibano imemorial,
pai de todos os meus cacoetes
Sob estas pedras,
talvez loucas delicadas,
que serviram chá,
bolo de fubá e escasso sentimento.
Talvez agulha de radiola,
que já fez dançar curitibano frio,
que raro aplaude, mais raro ri,
muito raro dança.
Uma busca diligente,
com o engenho mais moderno,
pode ser desentranhe,
aliança de ouro gravada,
o nome dele e o dela enlaçados,
um dia perdida na sarjeta,
numa fenda de desamor.
Meus passos ecoam na calcada.
Suas vibrações penetram
o frio petit-pave,
se incrustram
na memória basáltica
deste longo rio.
Caminho e um pouco de mim
fica na alma das pedras.
Lentamente me incorporo
ao solo sagrado
para ser um dia resquício,
cartão postal sem data,
relógio sem ponteiro,
lambrequim rachado,
canino de vampiro,
amalgama de pedra e tempo
que incertos arqueólogos
sondarão perplexos.