Recostou a cabeça
no colo das lembranças.
Era uma arquitetura de escombros.
A seus pés
abriu-se o vórtice
vertiginoso voraz
do nada.
Do absolutamente nada.
Começou então a parir
uns gestos
com braços de serpente
como se dançasse
ébrio de nulidades.
Dançou freneticamente
golpeando o espaço
com foices e coices
traçando nele desenhos
de mistério
que a cidade ao fundo
e à distância
mirava com mil
olhos de mica.
O passado jazia agora
atirado ao pé da mesa
morto e mamulengo
olhos de espanto.
Ao fim
daquela dança exausto
lançou em derredor de si
olhos de busca e pranto
sob a luz baça
que pendia de um grosso
cordão negro.
Mas só encontrou seus
próprios gestos
estúpidos
que um espelho barato
apoiado a um móvel
ao longe
flagrava
em puro escárnio.