(A Rilke)
Está parado há anos o relógio.
Há anos ele marca a mesma hora.
Sobre a surda parede – mudo – há anos
contempla o mesmo aqui e o mesmo agora.
O vento às vezes, ao soprar de suave
as finas correntes, de cujas pontas
pendem pesos em forma de pinhão,
lhe dá alguma vida – faz de conta.
Já lhe gruda à face escalavrada
e mentirosa de relógio antigo
o pó da longa espera pelo nada.
Flui o tempo – ele frui a sua morte,
e sendo agora apenas coisa inerte
vai marcando às ocultas nossa sorte.