Cérebro,
Luz-chama que discerne entre o que se me esquiva e o que me refere,
Entre o virtual e o inviável, razão que me defere.
Cérebro, tempo anteposto a um futuro pressuposto,
Óraculo biológico-funcional que prevê rugas no
meu rosto;
Cérebro-embrião, cérebro-rebento, cérebro-ancião,
guardião do meu tento...
Vendaval-calmaria, doce brisa, forte vento!
Cérebro-mistério, que vê o mundo em ilusão
de ótica
Ou que lhe assiste, interlocutor do real e da lógica...
Cérebro-opção, cérebro-fobia, cérebro
de amanhã, sonho que havia...
Que me concederá o que o mundo inteiro não daria!
Cérebro-estância, cérebro-casulo, entremeando as
linhas do meu muro;
Cérebro que me questiona sobre os ideais de vida que procuro;
Cérebro-psique, vizinho da razão, da emoção,
do sentido múltiplo;
Cérebro que, em seus melindres, faz-se infante, por vezes lúdico...
Cérebro, próprio d’algum primata ou vivente moderno,
Delineando as linhas sobrepostas em meu caderno...
Dá-me medo, nostalgia, torpor e segurança,
Cérebro que me rege em sua pujança!
És cérebro meu, rei e súdito, ambivalente;
És uma espécie de têmpora cardíaca, mente
que sente...
És, nominada têmpora, passiva e dilacerante,
Sentinela maníaca d’algum sonho aspirante;
És fantasiosa e céptica, inescrupulosa dialética...
Tens para o sonho e a razão a mesma temperatura magnética!
És têmpora racional, num mundo canibal e grotesco,
Guardiã do meu arsenal, mãe do mais vil arabesco!
És têmpora contrita, esparsa, efêmera, perene...
...Criadora do bem e do mal, herança maior do gene!