Brincar
Brincando com as ondas da garganta,
com a maciez das notas,
com a amargura das palmas
das almas apanhadas.
Brincando com as vozes deixadas num canto de casa desconhecida,
vencidas pelas dores de passados inchados.
Inchados de sal, inchados de chagas. Inchados.
Brincando de malabarismo com as palavras doídas dos amigos.
Uns dias com compaixão, outros dias gritando com eles,
(mas longe dos olhos deles).
Brincando de dançar com o vento, com o tempo, com as carapaças
que
criamos.
Carapaças que aceitamos, carapaças que deixamos que nos
ponham.
Brincando no quintal de amarelinha.
Pulando de quadrado em quadrado com meus sentimentos redondos,
com meus instintos triangulares, com os olhos losangulares da bandeira,
com minhas rachaduras ensolaradas de saudades maternas.
Brincando de falar verdades escondidas vindas de outros países,
de outras altitutes, com outras atitutes, com mais saúde.
Salve!
Brincando de tocar na barriga, de cantar positivo,
de gastar um pouquinho mais,
de ajeitar uma cadeira a mais pruma outra pessoa sentar e descansar.
Brincando de ser grande sendo uma criança boba
que adora imitar Rita Pavone,
que carrega no adormecer umas letras do Chico,
umas paixões de Elis, a fé de Gil, o sorriso do
Caetano
e a compaixão pelo Bituca.
Brincar sim.