SONETO DE PROCISSÃO
Eis o que peço agora: uma visão
teimosamente dura e limitada,
pobre mulher que vai na procissão
de pedra na cabeça carregada.
Mas quero ao mesmo tempo uma visão
pelo sonho infinito iluminada,
criança que cansou da procissão
e nos ombros alheios vai levada.
Quero pagar promessas estupendas,
aceitar os milagres inocentes,
andar na noite escura, sem bordão,
lanterna ou guia, por estreitas tendas,
no rumo das auroras renascentes
como os anjos que vão na procissão.
Odilo Costa Filho
Do livro: "Antologia dos Poetas Brasileiros", Nova
Fronteira, RJ, 1996
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