O PROVINCIAL E O CARCEREIRO
— Dorme.
— Dorme como se não fosse com ele.
— Dorme como uma criança dorme.
— Dorme como em pouco, morto, vai dormir.
— Ignora todo esse circo lá embaixo.
— Não é circo. É a lei que monta o espetáculo.
— Dorme. No mais fundo do poço onde se dorme.
— Já terá tempo de dormir: a morte inteira.
— Não se dorme na morte. Não é sono.
— Não é sono. E não terá, como agora, quem
o acorde.
— Que durma ainda. Não tem hora marcada.
— Mas é preciso acordá-lo. Já há gente
para o espetáculo.
— Então, batamos mais forte na porta.
— Como dorme. Mais do que dormindo estará mouco.
— Ainda uma vez.
— Melhor disparar um canhão perto da porta.
— Batamos, outra vez ainda.
— Melhor arrombar a porta. Sacudi-lo.
— Dorme fundo como um morto.
— Mas está vivo. Vamos ressuscitá-lo.
— Deste sono ainda pode ser ressuscitado.
— Deste sono, sim. Do outro, nem que ponham a porta abaixo.
— Está dormindo como um santo.
— Santo não dorme. Os santos são é moucos. Mas
têm os olhos bem abertos. Vi na igreja.