De longe parece aquela relva que cobria os prados
que verdejavam nos romances.
(Uma donzela e um cavalheiro trocavam olhares,
o coração lhes batia no peito,
pássaro ferido pulsando)
Falta o sol do ocaso,
mas me serve a claridade branca da manhã nublada.
Abandono a calçada
e o que de longe era um tapete verde
agora é grama áspera e mal cuidada,
mas o perfume úmido me comove.
Já há trilhos marrons de terra,
de passos sobre passos,
de gente como eu, fugida da calçada,
de gente apressada que cortou caminho,
de gente que não sei.
Invento sem pressa novas trilhas:
é preciso pisar no verde e respirar.
Tantas árvores, pios em código
(e nenhum cavalheiro me olha amoroso,
segurando firme rédeas de um cavalo suado
com grandes olhos marrons)
A sensualidade da terra e dos ramos ao vento
aquece meu corpo.
Um chuvisqueiro ralo delicia minha pele.
De repente, a avenida.
Eu feita idiota,
sapatos na mão, terra nos pés,
cabelos cheios de vento.
É quando ele vem passando no seu carro preto
e decerto não me vê.
Calço os sapatos, volto para a calçada.
Não era brincadeira... mas acabou.