Eu quis amar, pelo prazer sereno
de amar, sem a ambição de ser amado:
sacrificar-me, como o Nazareno
— rolar do alto de um grande apostolado.
Quis dar meu sangue virgem, por ameno
bálsamo ao lazarento e ao deserdado...
Mas vi que é só mentira e só veneno
tudo o que, um dia, me haja emocionado!
E vejo que a alma apenas é, na vida,
a inteligência efêmera, intermédia
entre a carne que pede e a que é pedida!
E — alma que sou, por último castigo —
fujo ao Mundo, e definho, na tragédia
de me isolar, sem ser feliz comigo!...
Hermes Fontes
Do livro: "A lâmpada velada", Francisco Alves, 1922,
RJ