Os loucos, sei que os entendo.
Por acaso quem me sonha
os pesadelos que tenho?
quem acorda aos sobressaltos
participando do enredo
das lutas em que me embrenho
em meu sono pavoroso?
quem adoece risonho
senão eu, com vil disfarce?
quem oculta sob a face
a lâmina enferrujada
que abate os bois em silêncio?
Não me pensem um maldito
que traça a insônia a medo
e a carrega em alforje.
E se mordo os travesseiros
é para abafar os gritos
que os armazeno: azedos.
E são gritos pavorosos
que ecoam pelos meus sonhos.
Aos loucos eu os acolho
porque a eles entendo.
Do livro: "Bolhas de luz", Ed. autor, 1985, RJ