São pardos à noite os gatos
e pardacentas as sombras;
se misturam pelas ramblas
com suas ambigüidades.
E são pássaros esguios
de espessa e rara plumagem.
E os olhos são faroletes
descascando as araucárias.
São pardos à noite esses gatos
de vesgos passos, macios; —
se guardam nas prateleiras
com sua misoginia;
E quando a noite vem obesa
para fuçar-lhes a gula
eles se untam de óleos
e se escafedem pras ruas.
Como nódoas luminosas
se envolvem em redemoinhos
e se abanam os rabos
e se esfregam os focinhos.
E com as suas catracas
aprisionam suas reses:
e desfibram pela mesa
a cartilagem grelhada;
se um xerelete aprisionam
cobrem-no logo de páprica
e degustam um vinho branco
e servem-se um molho tártaro.
E dormem depois de fastio
elas caixas de sapato
até que um raio de cio
de novo os ponha de guarda.
Do livro: "Bolhas de luz", Ed. autor, 1985, RJ