Soldado, triste soldado...
A propósito da chacina do Eldorado de Carajás
- PA
Soldado, triste soldado,
Quem te transformou em fera,
Numa besta sanguinária,
Criminoso acovardado,
Que o sangue e a morte venera,
Nessa vida mercenária?
Foi a voz do capitão,
A mais burra disciplina,
Foi o uniforme e o fuzil?
Não sabes mais dizer "não",
Obediente na chacina,
Quando a caserna é um covil?
Mas, não te lembras acaso
Que és neto de lavrador
Ou filho de operário?
Da infância de prato raso,
Da fome que se faz dor,
Do desemprego tão vário?
Soldado, triste soldado,
Manténs a vil propriedade
E esmagas o irmão sem-terra.
Mas, afinal de que lado
Se encontram fraternidade
E justiça nesta guerra?
Soldado, triste soldado,
Que um dia foi varonil
E até julgou-se valente,
Ao matar o deserdado
Assassinas o Brasil,
A ti mesmo e tua gente.
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